segunda-feira, 20 de junho de 2011

A sociedade não está preparada para o aumento no contingente da terceira idade; já são mais de 15 milhões os brasileiros maiores de 60 anos.

Em sociedades ditas primitivas, os mais velhos ocupavam lugares de honra, pois eram os depositários do conhecimento. Mas a lentidão dos idosos entrou em conflito com a velocidade dos tempos modernos, voltados para interesses mais mercantilistas que humanitários. Também chocou-se com a mentalidade consumista que elege como público preferencial o jovem.
E se já não é fácil para pessoas que fazem parte da população economicamente ativa exercer a cidadania enquanto consumidores, imagina-se que aqueles com mais de 60 anos enfrentam maiores dificuldades. Entretanto, não existem dados sobre essa faixa etária em relação aos direitos do consumidor, área recente no País, que começa a sistematizar estudos mais específicos.
Já são mais de 15 milhões os brasileiros com mais de 60 anos, segundo o IBGE. Uma população que cresce numericamente em um país que não tem política nacional para a terceira idade. Entrevistamos alguns associados do Idec e, embora a maioria deles tenha declarado não enfrentar preconceitos, todos apontaram problemas com relação ao tratamento dessa faixa etária.
Entre as medidas de proteção para a terceira idade existem a preferência no atendimento e a isenção do pagamento de passagens nos transportes coletivos urbanos na cidade de São Paulo. Há uma lei desconhecida, a de no 10.173, de 9/1/2001, que acrescentou ao Código de Processo Civil os artigos 1.211-A, 1.211-b e 1.211-C, estabelecendo a prioridade na tramitação de todas as ações judiciais em que figure pessoa com idade igual ou superior a 65 anos. Devido à morosidade da justiça, não se nota muita diferença com relação à proteção aos idosos nesse item. Já a preferência no atendimento e a isenção de pagamento de passagens geralmente são cumpridas. Mas, muitas vezes, a duras penas.
“Eu acho que há muito preconceito contra o idoso”, diz a dona de casa Edna dos Santos, 65 anos. “No ônibus, a implicância é tanta que parece que o dinheiro sai do bolso do motorista e do cobrador”, reclama. “Quando entra um idoso, eles fazem cara feia, tanto que um dia eu falei para o motorista: sua cara é tão feia que você parece mais velho que eu”.
Outro problema a enfrentar nos ônibus são os degraus altos. Yolanda Barbosa Ribeiro, ex-secretária de diretoria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/USP, aposentada de 72 anos, desistiu de tomar ônibus por isso. Mas não escapou dos degraus numa excursão pelos pontos culturais de São Paulo: “Na estação Júlio Prestes, o motorista parou a 1 metro da guia do passeio. Assim, para descer e subir, quando uma perna toca no chão, a outra está na altura do peito da pessoa. Por causa disso, tive de fazer fisioterapia”, conta.
Além do estribo alto, as vagas destinadas a idosos estão diminuindo. “Há alguns ônibus com apenas dois bancos reservados, e a catraca vai passando cada vez mais para a frente”, observa Celso Rodrigues Marcondes, advogado aposentado de 71 anos. Segundo ele, “isso acontece porque os velhos são mais lentos, e os motoristas têm pressa. Então, o tratamento dispensado depende do estado físico da pessoa”.
Já Manoel Morales Filho, advogado atuante aos 80 anos, aponta uma campanha feita nos trens do Metrô na qual o condutor fala para se respeitar os bancos cinzas, reservados a idosos, deficientes, mulheres grávidas ou com bebê de colo: “E já vi que dá resultado, pois muitas vezes há pessoas de pé, e os bancos cinzas vazios”, afirma. “Demora, mas aos poucos as pessoas se educam.”

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